Overview: Em artigo publicado na revista Nature Microbiology, especialistas apontam o papel da desigualdade social como fator determinante da disseminação da resistência aos antibióticos.

O artigo “Urban informal settlements as hotspots of antimicrobial resistance and the need to curb environmental transmission” publicado recentemente pela revista Nature Microbiology, aborda como a transmissão ambiental tem se tornando um fator global na disseminação de resistência a antibióticos (Antimicrobial resistance – AMR). São analisados diversos fatores ambientais que podem contribuir para sobrecarregar desproporcionalmente países em desenvolvimento quanto à AMR, principalmente em regiões de baixa renda como os assentamentos urbanos informais, ou favelas. Nesse contexto, essas regiões parecem ser locais de maior incidência de AMR devido ao uso inadequado de antimicrobianos, à alta densidade populacional e à infraestrutura precária e/ou insuficiente de saneamento básico.

O consumo frequente de antibióticos pelos moradores de favelas e a frequente automedicação, fruto do acesso precário a serviços de saúde, exerce pressão seletiva que pode acelerar a seleção e disseminação de bactérias resistentes a antimicrobianos entre os residentes desses locais. Além disso, a alta densidade populacional pode levar ao aumento de doenças de origem bacteriana quando associadas às más condições de moradia, de higiene e à proximidade com animais domésticos e/ou de criação. A superlotação populacional sobrecarrega o sistema de abastecimento e distribuição de água e o saneamento básico nesses locais, frequentemente resultando na insuficiência de disponibilidade de água, na contaminação bacteriana desse sistema de distribuição e até na descontinuidade desses serviços. A infraestrutura deficiente de saneamento possibilita a proximidade dos residentes desses assentamentos com esgoto não tratado e o consumo de água contaminada. Dessa forma, essa população pode ser colonizada ou infectada por bactérias resistentes a antibióticos presentes nesse meio, assim como entrar em contato com genes de resistência e resíduos de antimicrobianos. A desigualdade social é, portanto, fator determinante da disseminação da resistência e a população de menor renda tem maior vulnerabilidade neste cenário.

Para interromper o ciclo de contaminação e exposição humana, os autores destacam a importância de estratégias sustentáveis e adequadas às regiões de baixa renda que visem conter a transmissão e disseminação ambiental de AMR. Eles propõem orientações para pesquisas e iniciativas sociais de curto e médio prazo, como a investigação do impacto da implementação de tecnologias de saneamento básico na disseminação de AMR nas favelas e ao nível comunitário. Além disso, propõem identificar o panorama de uso de antibióticos pela população diante das melhorias aplicadas e estimulam a busca de apoio de personalidades relevantes interessadas em avaliar e implementar essas infraestruturas. É importante ressaltar que, apesar de bem vindas, as iniciativas propostas têm caráter emergencial, e somente ações que visem corrigir as distorções na distribuição de renda terão impacto de longo prazo no controle da disseminação da AMR.

Link do artigo: https://www.nature.com/articles/s41564-020-0722-0

Referência: Nadimpalli, M.L., Marks, S.J., Montealegre, M.C. et al. Urban informal settlements as hotspots of antimicrobial resistance and the need to curb environmental transmission. Nat Microbiol 5, 787–795 (2020). https://doi.org/10.1038/s41564-020-0722-0

Autores: Domenique J. Silva, Luana Boff e Renata C. Picão


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