As bactérias resistentes aos antibióticos não estão mais restritas aos estabelecimentos de saúde, o que representa também grande preocupação no âmbito da saúde animal e ambiental. Sob a ótica da abordagem de Saúde Única (One Health), a vigilância de bactérias resistentes em diferentes contextos é fundamental, considerando que os ambientes aquáticos, por exemplo, facilitam a dispersão e disseminação de genes de resistência aos antibióticos. Estudos realizados em amostras de efluente hospitalar e urbano verificaram a presença de bactérias clinicamente importantes, bem como de genes de resistência aos antibióticos. A deficiência de cobertura de tratamento de esgoto no Brasil, assim como sua inespecificidade para esses microrganismos, são fatores importantes que favorecem a introdução de tais bactérias nos rios, lagos e mares.
Mais recentemente, tem sido discutido o papel dos microplásticos (MPs) no transporte dessas bactérias ao meio ambiente. Os MPs são estruturas plásticas (1 µm – 5 mm) oriundas da fragmentação e degradação dos mais diversos itens plásticos e apresentam superfície hábil de ser colonizada, onde comunidades microbianas podem ser formadas, chamada de plastisfera. Além de proporcionar a colonização, os MPs podem adsorver compostos com atividade antimicrobiana (antibióticos e metais), que levam à formação de plastisfera tolerante a esses compostos. Uma vez estabelecida no microplástico, a comunidade microbiana pode formar o biofilme que confere especialmente duas vantagens: I) a transferência horizontal de genes, incluindo genes de resistência aos antibióticos, favorecida pela proximidade entre as células bacterianas; II) proteção aos fatores externos, como por exemplo medidas de tratamento utilizadas pelas estações de tratamento de esgoto e variações de condições ambientais; entre outras. Inúmeras questões ainda precisam ser respondidas acerca da temática. No entanto, verifica-se que a combinação dessas características promove a propagação e manutenção de bactérias resistentes ao ambiente, em que o real impacto da associação entre MPs e bactérias resistentes precisa ser investigado para o estabelecimento de estratégias de controle.
O artigo pode ser lido na íntegra no link: https://doi.org/10.1016/j.envres.2022.114156
Autores: Ms. Guilherme Sgobbi Zagui, Dr. Leonardo Andrade e Dra. Susana Inés Segura-Muñoz
Revisão: Dra. Ana Lúcia Costa Darini – FCFRP-USP
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